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sábado, 4 de fevereiro de 2017

Pierre Verger

Pierre Edouard Leopold Verger (Paris, 4 de novembro de 1902 — Salvador, 11 de fevereiro de 1996) foi um fotógrafo eetnólogo autodidata franco-brasileiro. Assumiu o nome religioso Fatumbi.

Era também babalawo (sacerdote Yoruba) que dedicou a maior parte de sua vida ao estudo da diáspora africana - o comércio de escravo, as religiões afro-derivadas do novo mundo, e os fluxos culturais e econômicos resultando de e para a África.

Após a idade de 30 anos, depois de perder a família, Pierre Verger exerceu a carreira de fotógrafo jornalístico. A fotografia em preto e branco era sua especialidade. Usava uma máquina Rolleiflex que hoje se encontra na Fundação Pierre Verger.

Durante os quinze anos seguintes, ele viajou os quatro continentes e documentou muitas culturas que logo desapareceriam sob o impacto da ocidentalização. 


Seus destinos incluíram:

Taiti (1933)
Estados Unidos, Japão e China (1934 e 1937)
Itália, Espanha, Sudão, Mali, Níger, Alto Volta (atual Burkina Faso), Togo e Daomé (atual Benim) 1935)
Índia (1936)
México (1937, 1939, e 1957)
Filipinas e Indochina (atuais Tailândia, Laos, Camboja e Vietnã, 1938)
Guatemala e Equador (1939)
Senegal (como correspondente, 1940)
Argentina (1941)
Peru e Bolívia (1942 e 1946)
Brasil (1946).


Na cidade de Salvador, apaixonou-se pelo lugar e pelas pessoas, e decidiu ficar. Tendo se interessado pela história e cultura locais, ele virou de fotógrafo errante a investigador da diáspora africana nas Américas. Em 1949, em Ouidah, teve acesso a um importante testemunho sobre o tráfico clandestino de escravos para a Bahia: as cartas comerciais de José Francisco do Santos, escritas no século XIX.

As viagens subsequentes dele são enfocadas nessa meta: a costa ocidental da África e Paramaribo (1948), Haiti (1949), e Cuba (1957). Depois de estudar a cultura Yoruba e suas influências no Brasil, Verger se tornou um iniciado da religião Candomblé, e exerceu seus rituais.

Definição de Verger sobre o candomblé: "O Candomblé é para mim muito interessante por ser uma religião de exaltação à personalidade das pessoas. Onde se pode ser verdadeiramente como se é, e não o que a sociedade pretende que o cidadão seja. Para pessoas que têm algo a expressar através do inconsciente, o transe é a possibilidade do inconsciente se mostrar".

Durante uma visita ao Benin, ele estudou Ifá (búzios - concha adivinhação), foi admitido ao grau sacerdotal de babalawo, e foi renomeado Fátúmbí ("ele que é renascido pelo Ifá").


As contribuições de Verger para a etnologia constituem em dúzias de documentos de conferências, artigos de diário e livros, e foi reconhecido pela Universidade de Sorbonne que conferiu a ele um grau doutoral (Docteur 3eme Cycle) em 1966 — um real feito para alguém que saiu da escola secundária aos 17.
Verger continuou estudando e documentando sobre o assunto escolhido até a sua morte em Salvador, com a idade de 94 anos. Durante aquele tempo ele se tornou professor na Universidade Federal da Bahia em 1973, onde ele era responsável pelo estabelecimento do Museu Afro-Brasileiro, em Salvador; e serviu como professor visitante na Universidade de Ifé na Nigéria.

Verger se apaixonou pela Bahia lendo "Jubiabá" e se tornou amigo das maiores personalidades baianas do século XX, como o próprio Jorge Amado, Mãe Menininha do Gantois, Gilberto Gil, Walter Smetak, Mário Cravo, Cid Teixeira, Josaphat Marinho, dentre outros notáveis. Seu trabalho como fotográfo influenciou notadamente nomes consagrados da fotografia contemporânea, como Mário Cravo Neto, Sebastião Salgado, Vitória Regia Sampaio, Adenor Gondim e Joahbson Borges, este o seu último assistente, apontado pelo próprio Verger como sucessor natural.

Na entidade sem fins lucrativos Fundação Pierre Verger, em Salvador, que ele estabeleceu, continuou seu trabalho. Ali estão guardados mais de 63 mil fotografias e negativos tirados até 1973, como também os documentos dele e sua correspondência.

No Brasil, foi homenageado como tema de carnaval (Rio de Janeiro, 1998) do GRES União da Ilha do Governador, cuja letra fala da Trajetória de Pierre Verger a Fatumbi.

Em 2000, Lula Buarque de Holanda dirigiu o documentário biográfico Pierre Fatumbi Verger: Mensageiro Entre Dois Mundos[1] . A narração é de Gilberto Gil, que mostra a relação do etnólogo com a Bahia, a África e o candomblé por meio de suas fotografias, livros e anotações. Há passagens com Jean Rouch, Zélia Gattai, Jorge Amado, entre outros. Inclui entrevista com Verger um dia antes de sua morte.


Jornalista: Paulo Ricardo

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